Santo Tomás, entre outras partes de sua Obra, dedica a Questão 21, na III Parte da Summa Theologiae para falar da “Oração de Cristo”. Ele trata esse tema em 4 Artigos, cujo primeiro se intitula “Convinha a Cristo orar?” Comentemos brevemente alguns pontos deste Artigo, ralacionando-os à vida espiritual.
Após colocar três argumentos para a tese de que “parece que não cabia a Cristo orar”, o Santo Doutor Angélico responde a tais argumentos para a tese de que convinha sim que Cristo orasse com a já conhecida maestria. Sem nos delongarmos com cada argumento contrário posto antecedente por Santo Tomás, vamos logo à justificativas da tese de que “Cabia a Cristo orar”.
O Doutor Universal inicia com uma citação do Evangelho de Lucas: “Sed contra est quod dicitur Lc 6,12: Factum est in illis diebus, exit in montem orare et erat pernoctans in oratione Dei". De fato, no Evangelho de Lucas várias vezes o Senhor aparece orando a sós (3,21; 5,16; 9,18. 28). Aqui temos um fundamento bíblico-histórico: Jesus orou. Tomás parte exatamente deste argumento, e ele por si só já seria suficiente para responder e justificar a tese principal, de que cabia a Cristo orar. Todavia, o Santo Doutor Angélico continua no Respondeo explicando porque convém a Cristo orar.
Em primeiro lugar porque Cristo tem uma vontade humana: “Se em Cristo houvesse uma única vontade, a divina, não lhe competiria de modo algum orar, porque a vontade divina realiza por si mesma o que quer”. Cristo ora porque é verdadeiro homem e reconhece na sua oração necessitar de Deus.
Ademais, a oração de Cristo tem o propósito de ensinar. Primeiramente que Ele é Filho, ao chamar a Deus de “Pai” na oração, e que Ele mesmo viera do Pai. Depois, dar o exemplo aos discípulos da necessidade da oração, pois Ele mesmo, sem necessitar, orava.
Qualquer olhar mais atento sobre os Evangelhos nos mostra um Jesus orante, que passava longas horas em intimidade com o Pai. A oração de Jesus tem ainda um caráter revelador: ensina sobre Deus Pai de um modo jamais visto. Outro aspecto importante a se notar é a constância da oração de Cristo. Hodiernamente, num mundo tão “plural” e superficial, onde os compromissos duradouros são rejeitados e os propósitos são afastados ou mudados quando sobrevém a dificuldade, o exemplo da constância de Jesus na oração é uma indicação precisa e concreta para a vida espiritual, pelo menos para quem quer levá-la a sério a solidez espiritual passa pela constância na oração, onde Deus vai lentamente moldando os afetos, fortificando a vontade no bem e orientando a inteligência para a verdade. Assim se pode crescer e, como Jesus, saber o que é orar com intimidade ao Pai celestial.
Pe. João Paulo dos Santos Silva
Assistente Eclesiástico da Pastoral Universitária
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